Belo Horizonte, MG.
Em 05 de fevereiro de 2012.
Prezado Arthur Le
Bon:
Saúdo-o com
alegria!
No mais completo léxico imagino que faltariam palavras para
dar início a essa carta, deixo então que a falta delas fale um pouco por mim!
Metalinguagens à parte, sinto-me como um idoso mergulhado em uma retrospectiva
pueril. Há muito deixei de lado o hábito de me corresponder através de cartas,
e vejo a oportunidade de retomá-lo como uma chance de descongelar-me da seca e
fria hibernação comodista na qual a humanidade vive nos dias de hoje.
Admira-me em uma pessoa o prazer no ato de ensinar, do que
se deduz meu apreço por uma “raça” em particular: Os professores. Em um país
carente de educação e amor, são eles os patronos que tomam o frontda
guerra travada contra a iniquidade. Eles não escolhem seus recrutas, mas
transformam os que recebem em verdadeiros super-soldados, preparando-os
para as piores batalhas: as contra eles mesmos. Os esforços desses generais,
embora sobre-humanos, não são garantia de que todos de seu pelotão aceitem as
mudanças propostas, mas de que sempre carregarão a semente do amor enterrada
caprichosamente no âmago de suas essências.
Sou filho de um casal de professores: uma atuante e um em
potencial! Ambos plantaram sementes no meu coração e mente, das quais já
começaram a brotar plantas novas que esboçam suas primeiras flores, mas os
muitos outros professores que tive na vida e que definitivamente amavam o que
faziam, deixaram também os seus germens no jardim da minha vida. Confesso que
nem todos carrego hoje: “parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves
do céu comeram. Outro caiu no pedregulho; e, tendo nascido, secou, por falta de
umidade. Outro caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e
sufocaram-na. Outro, porém, caiu em terra boa; tendo crescido, produziu fruto
cem por um.”. Há quem diga o que realmente precisamos ouvir, por isso: “Quem
tem ouvidos para ouvir, ouça!” – assim disse Jesus aos seus discípulos logo
após ter proferido a parábola do bom semeador.
Foi com uma memorável profissional da educação que aprendi a
ter amor pelas palavras. Desde então jamais deixei de escrever, e não sobrevivo
um dia sem escrever ao menos uma frase. Percebi com o tempo que: o que não vira
palavra vira sintoma; que as melhores palavras nascem em nossas mentes, e não
em nossas bocas, assim como nem todas elas foram feitas para serem ditas;
que com gestos, ou um olhar, podemos extrair o que teoricamente não
poderia ser exteriorizado; e, por último, que certas palavras são muito
poderosas e podem causar impactos devastadores que arma alguma jamais irá
alcançar.
Sinto-me feliz, e digo isso com muita convicção! Achei na
vida, em um momento desacreditado e sem sentido, um semeador que planta um
futuro diferente do que, por ausência de reflexão, a maioria das
pessoas busca.
O dom das palavras está na eloquência de quem as diz. Acredito
que muitas ainda não foram ditas com o seu real sentido, tendo assim um enorme
poder latente.
A cada dia uma voz, a cada dia uma frase, a cada dia um
olhar – outro olhar!
Saudades, meu velho!
Respeitosamente, teu amigo,
Lancelot Chevalier.
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