sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Carta 2: Lancelot Chevalier



Belo Horizonte, MG. Em 05 de fevereiro de 2012.

Prezado Arthur Le Bon:

Saúdo-o com alegria!

No mais completo léxico imagino que faltariam palavras para dar início a essa carta, deixo então que a falta delas fale um pouco por mim! Metalinguagens à parte, sinto-me como um idoso mergulhado em uma retrospectiva pueril. Há muito deixei de lado o hábito de me corresponder através de cartas, e vejo a oportunidade de retomá-lo como uma chance de descongelar-me da seca e fria hibernação comodista na qual a humanidade vive nos dias de hoje.

Admira-me em uma pessoa o prazer no ato de ensinar, do que se deduz meu apreço por uma “raça” em particular: Os professores. Em um país carente de educação e amor, são eles os patronos que tomam o frontda guerra travada contra a iniquidade. Eles não escolhem seus recrutas, mas transformam os que recebem em verdadeiros super-soldados, preparando-os para as piores batalhas: as contra eles mesmos. Os esforços desses generais, embora sobre-humanos, não são garantia de que todos de seu pelotão aceitem as mudanças propostas, mas de que sempre carregarão a semente do amor enterrada caprichosamente no âmago de suas essências.

Sou filho de um casal de professores: uma atuante e um em potencial! Ambos plantaram sementes no meu coração e mente, das quais já começaram a brotar plantas novas que esboçam suas primeiras flores, mas os muitos outros professores que tive na vida e que definitivamente amavam o que faziam, deixaram também os seus germens no jardim da minha vida. Confesso que nem todos carrego hoje: “parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu comeram. Outro caiu no pedregulho; e, tendo nascido, secou, por falta de umidade. Outro caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e sufocaram-na. Outro, porém, caiu em terra boa; tendo crescido, produziu fruto cem por um.”. Há quem diga o que realmente precisamos ouvir, por isso: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” – assim disse Jesus aos seus discípulos logo após ter proferido a parábola do bom semeador.

Foi com uma memorável profissional da educação que aprendi a ter amor pelas palavras. Desde então jamais deixei de escrever, e não sobrevivo um dia sem escrever ao menos uma frase. Percebi com o tempo que: o que não vira palavra vira sintoma; que as melhores palavras nascem em nossas mentes, e não em nossas bocas, assim como nem todas elas foram feitas para serem ditas; que com gestos, ou um olhar, podemos extrair o que teoricamente não poderia ser exteriorizado; e, por último, que certas palavras são muito poderosas e podem causar impactos devastadores que arma alguma jamais irá alcançar.

Sinto-me feliz, e digo isso com muita convicção! Achei na vida, em um momento desacreditado e sem sentido, um semeador que planta um futuro diferente do que, por ausência de reflexão, a maioria das pessoas busca.

O dom das palavras está na eloquência de quem as diz. Acredito que muitas ainda não foram ditas com o seu real sentido, tendo assim um enorme poder latente.

A cada dia uma voz, a cada dia uma frase, a cada dia um olhar – outro olhar!

Saudades, meu velho!

Respeitosamente, teu amigo,
Lancelot Chevalier.

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