quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carta 1: Arthur Le Bon




Imperador, MA. Em 05 de fevereiro de 2012.


Meu caro Lancelot Chevalier:


Paz seja contigo!

Esta é a primeira vez que te escrevo e confesso que ainda estou meio inseguro quanto a melhor forma de começar esta correspondência.  Com efeito, desde que meu pai morreu nunca mais logrei êxito em escrever a ninguém, pelo que voltar a fazê-lo é a uma tão desejável quanto assustador - Corrijo-me: uma ou duas cartas sim me foram possíveis de escrever, mas nunca outra com a intenção clara de levar adiante uma correspondência com alguém cuja soma do espírito cristão com o intelecto possante me impressionasse de fato, como é o caso de agora.

É bem sabido por minha gente que duas coisas somente chamam minha atenção nas pessoas: a bondade e a inteligência, Lancelot! Sim, a bondade que ainda sem a inteligência é coisa digna de respeito, e a inteligência que sem a orientação da bondade haverá de ser sempre não mais que um perigo. Quando encontro o casamento destas virtudes no caráter de alguém, não tardo a chamar esse alguém de amigo, o que explica a afinidade instantânea entre nós dois. Almas bivitelinas? Brinco!

Antes que subisses ao Maranhão eu já ouvira muito a teu respeito, Charles Ventura, nosso amigo comum, dissera-me maravilhas e insistira muito na ideia de que haveríamos de ser amigos um dia – Acertou! – A partir disso li teus escritos, acompanhei teu movimento nas redes sociais e alimentei a ideia de que o bom Charles sabia o bastante a respeito de nós dois para fazer uma declaração responsável. Folgo de que a ele tenha dado tanto gosto converter-se nessa ponte fiável entre nós dois, posto que em tua pessoa encontrei este amigo que tão bem me corresponde como pessoa.

Depois da morte de meu pai, não obstante os muitos amigos que enchem minha vida, ficou sempre um espaço vazio dentro de mim à espera de alguém que pudesse acessá-lo. É neste espaço de que te falo, situado em meu foro mais íntimo, que meus conceitos são forjados a partir de minha percepção do mundo. Há muito preciso de alguém capaz, que de boa gana queira entremeter-se em reflexões profundas demais para muitos e ajudar-me a domar ideias e preconceitos a fim de fazer-me a mim mesmo uma pessoa melhor a cada dia.

Pode parecer que estou falando de uma central egoísta, de meu único e exclusivo interesse, mas não é bem assim.  Sendo professor, como sabes que sou, minhas reflexões e conclusões não tem um fim em mim mesmo, mas antes alcançam a outros e neles multiplicam-se.

Antes que comecemos, digo-te que o corresponder-se exige das partes envolvidas duas coisas, pelo menos: A primeira é o amor às palavras que favorece na pessoa o nível de abstração necessário para uma compreensão subjetiva mínima do mundo.  A segunda é a coragem de expor-se, pois, correspondendo-se, o homem dá e recebe, ensina e aprende, muda o outro e a si mesmo.

Creio que por agora temos um bom começo, pelo que aguardo ansioso tua resposta e tudo que desta correspondência ainda é porvir.


Atenciosamente, teu amigo,
Arthur Le Bon.

P.S.: Mando-te juntamente com esta carta a pintura que um amigo daqui do Maranhão fez a partir da foto que fizemos quando de tua visita!

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